quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Missão MAVEN

A missão MAVEN, acrónimo de Mars Atmosphere and Volatile Evolution (Atmosfera marciana e a Evolução volátil), da NASA será lançada em 2013, e estudará as interacções entre as camadas superiores da atmosfera do planeta vermelho e o vento solar. A sonda permitirá responder a uma questão muito importante: como é que as alterações da atmosfera superior influíram sobre a superfície do planeta - a resposta a esta questão irá permitir respostas mais concretas a outras perguntas e ao desenvolvimento da história geológica do planeta. Além disso, o desaparecimento do campo magnético marciano levou à suposta destruição das camadas superiores da atmosfera marciana pelas partículas electricamente carregadas, i.e. vento solar. Explicar o modo e as eventuais alterações de superfície são uma das propriedades desta missão.

Interacção entre o campo electromagnético do planeta (representado a azul) e o vento solar (representado a branco). O Sol encontra-se à esquerda nesta imagem e o vento solar vai destruindo progressivamente as altas camadas atmosféricas à medida que o campo electromagnético do planeta vai enfraquecendo. (Fonte: NASA)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Equinócio de Outono


Às 16h44 minutos do dia 22 de Setembro (hora legal) em Portugal produzir-se-á o equinócio de Outono, o ponto preciso em que a duração do dia é igual ao da noite e em que a linha da eclíptica (plano do sistema solar) cruza o equador celeste (projecção do equador terrestre na abóbada celeste).

A palavra Equinócio provém do latim e significa, isso mesmo, noite igual ao dia.
(Fonte da imagem: Wikimedia)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A curva da Terra

Como antes dito, os antigos gregos chegaram à conclusão de que a Terra teria de ser redonda ou esférica para poder projectar uma sombra de limbo curvado na superfície lunar. Aí está a prova.


Diagrama de imagens do eclipse parcial da Lua de 16 de Agosto de 2008. (Fonte: Anthony Ayiomamitis)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Os Eclipses Lunares | Classificação e Efeitos de Óptica

Um Eclipse lunar é um fenómeno celeste em que a Lua fica coberta por uma determinada parte da sombra da Terra e ocorre quando a Terra, a Lua e o Sol encontram-se perfeitamente (ou aproximadamente) alinhados, com a Terra a ocupar a posição central deste alinhamento. A duração de um eclipse lunar depende da posição da Lua em relação aos seus nodos*. Como será óbvio de perceber, a Lua deverá encontrar-se na fase de Lua Cheia para que se possa produzir um eclipse da Lua. O próximo eclipse total da Lua terá lugar a 21 de Dezembro de 2010, sendo, até à referida data, produzidos uma série de eclipses parciais ou penumbrais. Passarei então a explicar melhor este fenómeno.

Assim, a sombra da Terra pode ser dividida em duas partes distintas: (1) Umbra e a (2) Penumbra.

Diagrama de um eclipse lunar. (Fonte: Wikimedia)

Quando a Lua se encontra embuída na umbra da Terra não está exposta à radiação solar directa, contudo, uma parte dos raios solares atravessam a atmosfera terrestre nas suas camadas superiores o que cria a Penumbra. Isto acontece pelas grandes dimensões do Sol em comparação com o diâmetro angular da Terra. Se a Umbra da Terra é um cone então a Penumbra é um cone de maiores dimensões que contém no seu centro geométrico a umbra.
Um eclipse penumbral é aquele que ocorre quando a Lua atravessa apenas a penumbra da sombra da Terra. A Lua é iluminada pela radiação solar que não é bloqueada pelas altas camadas atmosféricas terrestres. Contudo, os eclipses penumbrais não causam alterações visíveis, na maioria dos casos, na superfície da Lua. Não obstante, existem dois tipos de eclipses penumbrais, os parciais em que apenas uma parte da Lua entra na penumbra (sem alterações visuais reconhecíveis ao olho humano) e os totais (muito mais raros) em que a Lua entra totalmente na penumbra mas não na umbra. Neste último é possível notar um ténue obscurecimento do quadrante lunar mais próximo do cone da umbra.

Um eclipse parcial da Lua ocorre quando apenas uma parte da Lua entra na umbra, quando esta entra totalmente dentro do cone de sombra da umbra, um observador terrestre presenciará um eclipse total da Lua.


Diagrama de um eclipse lunar. (1) Lua Cheia, (2) Eclipse Penumbral, (3) Eclipse parcial e (4) Eclipse total. (Fonte: Wikimedia)

A velocidade da Lua pelo cone de sombra da Terra é de 1 km por segundo (sensivelmente) o que garante que a fase de totalidade de cada eclipse não dure mais que 107 minutos e o tempo do primeiro e do último contacto com a sombra da Terra seja, no máximo, de 3,8 horas. Existe um factor que deve ser considerado quando se espera um eclipse lunar de grande duração: a distância da Lua à Terra.

A órbita da Lua não é uma circunferência perfeita em que todos os pontos da sua órbita são equidistantes do centro de gravidade da Terra. Antes, a órbita lunar é uma elipse - o que faz com que possua um ponto em que se aproxime mais de nós (perigeu) e outro em que se encontre na sua distância máxima (apogeu). Se a Lua se encontrar no apogeu durante um eclipse lunar o tempo de duração do eclipse aumentará. Isto sucede segundo as Leis de Newton, todo o corpo que se encontre no ponto mais distante da sua órbita, circulará mais lentamente do que no perigeu. De qualquer modo a distância entre perigeu e apogeu lunares não é suficientemente grande para provocar alterações significativas no diâmetro do cone de sombra que atinge a Lua - logo não provocando uma diminuição do tempo de eclipse lunar.

Também pode ser possível observar um eclipse horizontal (tema a desenvolver noutro post).

Eclipse total da Lua. (Fonte: Wikimedia)

No entanto, apesar da Lua atravessar a umbra da Terra, ela não desaperece na sombra desta última, uma vez que a luz solar é refractada na atmosfera da Terra e mergulha no centro da umbra. Se a Terra não possuísse atmosfera então a Lua iria desaparecer na umbra.


Assim porque é que a Lua tende a adoptar uma coloração mais avermelhada durante um eclipse? Isto acontece porque a luz com pequenos comprimentos de ondas (i.e. espectro azul) tem tendência a ser dispersada pelas partículas atmosféricas enquanto que a luz com grandes comprimentos de onda (i.e. espectro vermelho) que passa através da atmosfera, i.e. é refractada, atingindo a superfície da Lua. Esta luz não é 'contaminada' pela restante radiação solar, uma vez que dentro da sombra a luz branca 'pura' do Sol é basicamente inexistente. Assim, a Lua tem tendência a adoptar uma coloração avermelhada. Resta também referir que isto acontece devido ao facto de os raios solares terem de atravessar a atmosfera na horizontal, o que significa que têm que atravessar mais camadas atmosféricas do que na vertical o que contribui para a dispersão dos azúis. Este pormenor científico também explica o facto de os nascer e pores do sol serem avermelhados ou alaranjados.



Refracção da luz solar na atmosfera terrestre ao longo do cone de sombra do planeta azul. À medida que a Lua entra no cone de sombra da Terra, o nosso planeta funciona como um projector gigante em que a Lua é a tela. A luz solar ao entrar pelas camadas mais baixas da atmosfera terrestre terá que passar por uma maior densidade atmosférica fazendo com que apenas os vermelhos sejam refractados, projectando-se na Lua. As imagens de cima correspondem à entrada da Lua no cone de sombra da Terra. É possível que, aquando de perigeu a Lua se encontre suficientemente perto para ser tocada pela zona completamente escura do cone de sombra criando um eclipse muito mais escuro e menos vermelho. As imagens de baixo correspondem à visão que um observador na Lua teria do eclipse: na realidade, para ele tratar-se-ia de um eclipse do Sol. (Fonte: wikipedia)



Diferentes aparências da superfície lunar durante um eclipse total da Lua. (Fonte: Wikimedia)

Agora existe um aspecto muito interessante: a quantidade de luz refractada pela atmosfera terrestre depende da quantidade de poeiras ou de nuvens existente na atmosfera. Se a atmosfera for muito turbulenta, maior será a dispersão dos azúis enquanto que o vermelho continuará a ser refractado. Assim, se é constante a refracção dos vermelhos, quanto mais 'azul' ficar disperso na atmosfera terrestre mais vermelho será o eclipse.

Os fenómenos vulcânicos que contribuem para aumentar a quantidade de poeiras e de nuvens na atmosfera terrestre produzem eclipses mais avermelhados ou cobreados. Assim, e de forma espectacular, a coloração dos eclipses encontra-se intrinsecamente relacionada com as alterações atmosféricas. Recentemente, a comunidade científica procura uma relação entre as mudanças climáticas actuais e os eclipses lunares. Uma conexão inesperada e incrível.

Para classificar o grau de obscuridade dos eclipses lunares foi elaborado por um astrónomo francês, André Danjon, uma escala: A escala de Danjon para medição do grau de obscuridade de um eclipse lunar:

L=0 » Eclipse muito escuro. Lua praticamente invisível, especialmente no meio da totalidade.

L=1 » Eclipse escuro, cinzento ou de tom acastanhado. Os pormenores da superfície lunar são detectados com dificuldade.

L=2 » Eclipse vermelho-escuro. A área central encontra-se muito obscurecida enquanto que o término da umbra é brilhante.

L=3 » Eclipse vermelho 'cor de tijolo'. O limbo da umbra é muito mais vivo e brilhante e apresenta uma tonalidade de vermelho cor de tijolo.

L=4 » Eclipse muito brilhante, cobreado ou alaranjado. A sombra da umbra apresenta um tom azulado escuro e um limbo muito brilhante.


Uma última curiosidade: Os astrónomos da Grécia Antiga foram os primeiros a considerar que o nosso planeta era esférico devido à projecção do limbo da sombra (que era sempre curvada) na superfície lunar. De facto, os eclipses permitiram conceber uma noção clara de interligação e conexão entre os astros do sistema solar muito antes do estabelecimento e aceitação das leis de Newton.



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* visualizar explicação no próximo post.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eclipse Parcial da Lua de 16 de Agosto de 2008

No próximo dia 16 de Agosto ocorrerá um Eclipse Parcial da Lua, o qual será visível da integridade do território português.

A Lua entrará nas sombra da Terra às 19h36 min (hora de Lisboa) e o meio do Eclipse ocorrerá às 21h10 m, a Lua não ficará totalmente coberta pela sombra da Terra (visto o eclipse ser parcial), a lua irá sair da sombra às 22h45 min. Dificilmente o observador reconhecerá a entrada e saída da Lua da penumbra da Terra (que é parte mais clara da sombra da terra). Além do mais, a Lua deverá nascer às 19h21 min.
Esperemos, pois, que a meteorologia colabore.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As Perseidas

Esta chuva de estrelas, assim denominada por parecer irradiar da constelação do Perseu, é constituída pelos detritos deixados pelo cometa Swift-Tuttle. No dia 12 de Agosto a Terra irá intersectar a órbita destes detritos cometários dando origem a um dos espectáculos celestiais mais conhecidos do público em geral: uma chuva de estrelas. As partículas deste cometa entrarão em contacto com a atmosfera do planeta e, sendo atraídas pela gravidade deste, irão arder na atmosfera devido ao atrito com as moléculas atmosféricas provocando o efeito de 'bola de fogo' tão comummente apelidado de 'estrela cadente'.

Este ano, se as condições atmosféricas assim o permitirem, com a lua em quarto crescente, o céu depois da meia-noite, uma da manhã, encontra-se livre da 'poluição luminosa lunar', o que facilitará a observação precisa deste fenómeno.


Chuva de estrelas Perseídas com a Via Láctea como pano de fundo. (Fonte: Stephan Seip)


Qualquer indivíduo pode ser um observador desta chuva de estrelas, para a qual, não necessita de nenhum instrumento óptico, a não ser a sua visão e a paciência. Olhar directamente para a constelação do Perseu pode não ser sinónimo de uma boa 'caça' já que os meteoros tendem a 'espalhar-se' por todo o céu - de facto, os meteoros parecer irradiar desse ponto no céu, mas não se confinam a esse mesmo ponto. Uma boa sugestão para os observadores é que procurem os seus telhados e estendam-se neles apreciando o céu nocturno sem esforçar demasiado a coluna cervical (sugestão eficaz e comprovada pelo próprio). Aviso também para não se aventurarem em locais escuros no meio da noite, pois nem todos os saíram para observar a chuva de estrelas.


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PS: É absolutamente normal que a chuva de estrelas anteceda e suceda nos dias contíguos a 12 de Agosto, contudo com menor intensidade, uma vez que o pico de actividade máxima ocorre neste mesmo dia.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Espinha Dorsal da Noite


A espinha dorsal da noite é a Via Láctea, via norteadora do céu, que sustentava o mundo do divino, a abóbada celeste e mantinha a integridade do chão e das coisas deste mundo. As constelações parecem desenhar-se à sua volta e emergir da sua totalidade imensa de estrelas. Hoje, os zigurates foram destruídos e as chamas consumiram as antigas cidades, os homens vivem em grandes cidades de betão e de cinza e o seu conforto passa por coisas fáceis e acessíveis, não depende dos astros para prever o futuro. Então, sabendo ele destas tecnologias e geração após geração, deixou de lidar com o céu. Tendo-o esquecido, deixou de se saber orientar porque há quem se oriente por ele. O Homem é tecnológico, o que é uma maneira preguiçosa e perigosa de se desapaixonar pelos segredos e mistérios. Hoje o tempo é surpreendentemente finito e as suas escalas encurtadas pelo ritmo da vida ocupada. O Homem pouco sabe do seu lugar no cosmos, e pouco sabe este sobre o Homem. Sempre foi assim, mas agora é a inutilidade que se compôs de justificação.
(Fonte da imagem: Kerry-Ann Lecky Hepburn)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Cassiopeia

A Cassiopeia é uma constelação de origem muito antiga, remontava aos gregos clássicos (tendo sido classificada e incluída por Ptolomeu no seu catálogo), sendo hoje uma das 88 constelações em que está organizada a abóbada celeste.


Cassiopeia. (Fonte: Wikimedia)


A lenda da Cassiopeia é a de uma rainha cuja beleza não lhe diminuía a arrogância tendo afirmado ser mais bela que todas as ninfas do Oceano. Estas, zangadas por tamanha ousadia vinda da parte de uma mortal, foram queixar-se a Poseídon que enviou um monstro marinho (a Baleia - também uma constelação) para as costas do reino de Cefeu (o rei) e de Cassiopeia. Para apaziguar o monstro marinho, Cefeu consultou o oráculo de Delfos e este informou-o de que a única forma de impedir a destruição generalizada seria o sacrifício da sua própria filha, Andrómeda, ao monstro marinho. Andrómeda foi, então, acorrentada a uma rocha perto do mar como forma de sacrifício ao monstro, porém foi salva por um jovem herói, Perseu. Foi com este jovem que acabou por se casar. Todas estas figuras mitológicas foram 'colocadas' ou visionadas nos céus pelos gregos antigos e Cassiopeia figura como uma rainha sentada no seu trono a contemplar a sua beleza através de um espelho. O mais caricato é que todas estas constelações (Cassiopeia, Cefeu, Andrómeda e Perseu) partilham áreas contíguas no céu, somente a Baleia ocupa uma posição mais austral.

De facto, a constelação da Cassiopeia é uma constelação circumpolar norte, o que significa, em termos práticos, que para a maioria dos observadores das latitudes médias do hemisfério norte, que as suas estrelas nunca se põem abaixo do horizonte. Assim, a rotação da Terra durante uma noite cria a sensação de que as mesmas circundam o pólo celeste norte. A constelação do Cefeu também é considerada uma circumpolar norte, mas Andrómeda e Perseu (principalmente esta primeira) são associadas às constelações de Outono, exactamente por atingirem o seu zénite (ponto mais alto no céu, imediatamente por cima do observador) durante esta estação.

A constelação contém duas estrelas de grande brilho na Galáxia: (ρ) Rho Cassiopeiae e V509 além de a estrela (ε) Eta Cassiopeiae, a qual é considerada um gémeo solar devido ao facto de apresentar características muito semelhantes às do sol (ver o post sobre Tau Ceti).

Eta Cassiopeiae ou η Cas é um sistema binário composto por duas estrelas: uma semelhante ao sol (tipo espectral G2) e outra estrela anã laranja localizado na nossa vizinhança galáctica: está a 19.4 anos-luz do nosso sistema solar. Eta Cassiopeiae também é habitualmente denominada de Achird e tem sido alvo de vários programas de pesquisa científica, como o SETI ou para o futuro conjunto de telescópios espaciais destinados a encontrar planetas terrestres em torno de outras estrelas. Devido à estabilidade das órbitas entre as duas componentes do sistema e às características da estrela principal é de afirmar que Achird poderá conter um planeta com características semelhantes à da Terra.
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Rho Cassiopeiae (ρ Cas / ρ Cassiopeiae) encontra-se a 11'650 anos-luz e é cerca de 550 000 vezes mais luminosa do que o sol, apresentando um diâmetro de 450 o do Sol. Trata-se de uma das estrelas mais brilhantes da Galáxia com uma magnitude absoluta de -7.5. A zona habitável do sistema solar (i.e. onde os planetas podem desenvolver condições similares às da Terra) encontrar-se-ia a 450 UA da estrela (ou seja 450x mais distante do que no nosso Sistema Solar), o que é, na falta de melhor palavra, incrível. Esta estrela é também extremamente rara uma vez que se trata de uma hipergigante amarela (actualmente apenas se conhecem 7 estrelas deste tipo). A estrela é instável pois apresenta erupções em intervalos de 50 anos, sendo que no último acontecimento (2000 - 2001) perdeu 3% da sua massa (o equivalente à massa de 10 000 Terras). Durante estes fenómenos a sua luminosidade oscila entre 4,5 e 6 (magnitude aparente) sendo sempre visível, com maior ou menor dificuldade. Esta instabilidade é sinal de um acontecimento estelar importante que pode vir a suceder: a supernova (a morte estelar).

A constelação da Cassiopeia como pode ser observada no céu nocturno. As principais estrelas encontram-se nomeadas bem como o asterismo em W que define de forma marcada a imagem da constelação. (Fonte: Autoria do blog)


A Cassiopeia também possui 2 objectos de Messier (catálogo realizado pelo astrónomo francês Messier para distinguir os objectos do céu profundo de cometas periódicos): Messier 52 e Messier 103, este último localizado a cerca de 8'000 anos-luz da Terra. Ambos tratam-se de enxames estelares abertos. Na Cassiopeia encontram-se os restos da explosão de uma estrela, uma supernova (também, neste caso, denominada de estrela de Tycho) que foi observada em todo o mundo durante o ano 1572. Esta supernova foi descrita por Tycho Brahe (importante astrónomo dinamarquês).

Enxame estelar aberto Messier 52. (Fonte: Wikimedia)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Há Água em Marte

A sonda Phoenix da NASA obteve provas concretas da presença de água em Marte. A água já havia sido detectada por várias sondas espaciais em órbita marciana como a Mars Odyssey mas foi a primeira vez que se detectou água (no estado sólido) e que as propriedades químicas dessa mesma água foram analisadas.
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A Phoenix escavou o subsolo do planeta vermelho a uma profundadidade de vários centímetros, e até à bem pouco tempo, tinha-se especulado sobre a natureza de um pedaço de gelo desenterrado (desenmarciado?) e que havia derretido em tempo real (questão de poucas horas). Apesar de todas as teorias apontarem para gelo de água (e não de dióxido de carbono) foi esta última análise, dentro do laboratório da sonda, que permitiu a confirmação indubitável e constitui uma prova palpável - a primeira do seu tipo - que pela primeira vez na história da Humanidade descobriu-se e analisou-se água noutro astro que não a Terra. Pode parecer singela esta conquista, mas promete dar novo ímpeto à conquista espacial e dos nossos vizinhos cósmicos, particularmente, considera-se como mais um passo conseguido na direcção da colonização do planeta vermelho.
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Sonda Phoenix no círculo polar norte de Marte. (Fonte: NASA)
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A sonda Phoenix encontra-se nas grandes planícies do norte marciano e manter-se-á até ao final do longo verão marciano (as estações em Marte têm o dobro da duração das terrestres). O terreno das planícies polares é plano e com poucas rochas - típico de uma sub-superfície gelada. A sonda ao encontrar-se dentro do círculo polar norte de Marte deixará de receber luminosidade solar com intensidade suficiente para produzir energia. Assim, e com a deposição de neve de dióxido de carbono durante o inverno marciano, a sonda Phoenix não deverá renascer das cinzas, permanecendo coberta durante o inverno boreal e já inoperável no próximo estio.

terça-feira, 22 de julho de 2008

"Paint the sky with stars" | Enya




Suddenly before my eyes
Hues of indigo arise
With them how my spirit sighs
Paint the sky with stars

Only night will ever know
Why the heavens never show
All the dreams there are to know
Paint the sky with stars

Who has paced the midnight sky?
So a spirit has to fly
As the heavens seem so far
Now who will paint the midnight star?

Night has brought to those who sleep
Only dreams they cannot keep
I have legends in the deep
Paint the sky with stars

Who has paced the midnight sky?
So a spirit has to fly
As the heavens seem so far
Now who will paint the midnight star?

Place a name upon the night
One to set your heart alight
And to make the darkness bright
Paint the sky with stars.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

(τ) Tau Ceti

Este artigo é sobre a estrela τ Ceti, ou seja a estrela Tau (letra grega) da constelação de Cetus (Baleia). Tau Ceti não possui um nome próprio, mas sim, um nome que resulta da catalogação de estrelas. A estrela é particularmente interessante porque, para além de se encontrar no nosso quintal galáctico (está a 11,9 anos-luz do Sistema Solar, tornando-a uma das estrelas mais próximas de nós), é uma estrela com propriedades e características muito semelhantes às do Sol.

Apesar de ser parecida com o Sol, Tau Ceti, é uma estrela com baixo índice de metalicidade, o que significa que terá menos probabilidades de desenvolver planetas rochosos, como a Terra. Além disto, o sistema de Tau Ceti possui um disco de poeiras que diminui as probabilidades de vida neste sistema - devido aos frequentes impactos contra possíveis planetas.



Constelação da Baleia com a estrela Tau Ceti assinalada. (Fonte: Autoria do Blog)


Contudo, Tau Ceti é uma estrela muito mais 'sossegada' do que o nosso Sol. A estrela não apresenta a mesma quantidade/tipo de actividade solar. Apesar de apresentar estas diferenças, as semelhanças nas diferenças aproximam as duas estrelas.

Para já, e ao contrário, de algumas estrelas em torno das quais foram descobertos planetas do tipo de Júpiter mas em órbitas mais próximas da sua estrela* do que a de Mercúrio ao Sol, Tau Ceti não apresenta nenhum planeta desta categoria. Isto constituí uma maior probabilidade de que a estrela possua um sistema solar um pouco mais parecido com o nosso.

A estrela tem apenas entre 70 a 80% do diâmetro do Sol e uma luminosidade de apenas 55 % da do Sol, ainda assim apresenta um tipo espectral semelhante ao do Sol, G8 (o que lhe confere uma coloração similar à do Sol). O facto de a estrela possuir uma atmosfera mais calma do que a solar aumenta as probabilidades de vida num hipotético planeta em torno da mesma. Para que um eventual planeta com as características da Terra existir em torno de Tau Ceti, tinha que estar a uma distância de 0,7 UA** da sua estrela, i.e. tinha que estar à mesma distância de Vénus do Sol. Se pudéssemos transportar o planeta Vénus para este 'sistema planetário', o planeta teria fortes possibilidades de ter seguido, na sua evolução, um caminho similar ao da Terra. O facto do planeta ter que se encontrar mais perto para poder deve-se, entre coisas, à diminuição da luminosidade de Tau Ceti em comparação com o Sol.

O Sol (à esquerda) apresenta muito mais actividade do que Tau Ceti (à direita), contudo este último é um bom candidato para os programas de pesquisa de vida fora do nosso Sistema Solar. (Fonte: NASA)

Até este momento, não foram detectados planetas em torno de tau Ceti, o que é positivo: pode constituir-se, assim, um sinal de que os planetas têm dimensões aos nossos companheiros rochosos do Sistema Solar (e que, por isso mesmo, ainda não existem telescópios espaciais com resolução suficiente para os detectar). Por outro lado, há um preço a pagar se não existirem gigantes de gás num sistema deste género, pois este tipo de planeta 'desvia' asteróides mortíferos na sua direcção, ajudando a 'limpar' o espaço interplanetário salvando os planetas rochosos internos. Segundo os estudos apresentados, existe um disco de asteróides e de cometas (cerca de 10 vezes maior que o nosso) em torno da estrela o que poderá significar a inexistência de gigantes de gás em torno da mesma, com previsíveis consequências para a sorte dos possíveis planetas terrestres lá existentes.

Contudo, este disco de asteróides e de cometas encontra-se a cerca de 10-50 UA (o do nosso Sol estende-se desde os 35-50 UA). Portanto, o big deal será com o seu bordo interno, o qual poderá ser explicado pela ausência de planetas que ajudassem a limpar os 'detritos planetários' nessa área. Mas 10 UA é uma distância confortável dos 0,7 UA a que se pode encontrar a nossa nova terra. E ninguém nos garante que não exista um gigante de gás mais pequeno a filtrar os asteróides e cometas (por ser exactamente mais pequeno é que também é mais difícil de detectar do que um grande, como Júpiter). O futuro parece ser risonho para nós.

Apesar dos relativos 'nãos' eles não passam mesmo disso, de relativos. Só, à medida que a tecnologia evolui é que poderemos conhecer melhor os mistérios desta estrela com potencial para nós Humanos e já aqui tão perto, a apenas 11,9 anos-luz de casa.



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* Hot Jupiter

** UA » Unidade Astronómica, é idêntica à distância entre a Terra e o Sol. É basicamente utilizada para medir distâncias entre astros num sistema solar. Representa, sensivelmente, 149 600 000 Km.

sábado, 19 de julho de 2008

Os mistérios de Omega Centauri

O maior e mais brilhante enxame estelar globular da nossa galáxia relevou a presença de um buraco negro de dimensões médias no seu centro.
Um enxame globular é um conjunto de milhares de estrelas que localiza fora do plano galáctico, mais propriamente, no halo da galáxia. Este enxame globular tem três particularidades que o distinguem da maioria dos outros enxames globulares que circundam o plano galáctico: (1) possuí 10 vezes mais massa do que os restantes enxames; (2) tem mais diversidade de gerações de estrelas do que a maioria dos enxames globulares e (3) roda em torno do seu eixo mais rapidamente do que qualquer enxame globular típico.
Perante estas condições, tão peculiares, não é de estranhar que se considere que este enxame é, na realidade, o que resta de uma galáxia antiga que há muito colidiu com a Via Láctea. Esta galáxia viu-se desprovida de grande parte das suas estrelas devido a forças de maré criadas no momento da colisão, i.e. a grande maioria das suas estrelas passou a integrar o corpo principal da nossa galáxia. Assim sendo, Omega Centauri é o núcleo que resta da colisão intergaláctica e que agora ocupa, nos domínios dos enxames um lugar notável e de destaque.
O buraco negro não é visível, mas é comprovado pelas leis da Física que admite que a velocidade de rotação das estrelas do enxame, só é possível através da presença de um corpo central e maciço. Tal entidade que corresponde as essas características é um Buraco Negro (devido à massa insuficiente das estrelas centrais para gerar uma rotação tão rápida de todo o enxame). Este buraco negro possui uma massa equivalente à de 40 000 sóis.
Este é o segundo buraco negro de tamanho 'médio' encontrado, o que constitui uma prova de que os buracos negros possuem diferentes tamanhos e massas. O outro buraco negro "mediano" foi encontrado, curiosamente, no centro de um enxame globular, desta vez, na vizinha galáxia de Andrómeda.
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Enxame globular de Omega Centauri. O enxame é tão brilhante que é visível a olho nú, a prova disso é mesmo o seu nome: o enxame foi catalogado pelos antigos como sendo uma estrela. (Fonte: NASA)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A civilização Humana

Uma vez que ontem descemos até à Terra, achei por bem trazer aqui uma mostra da arquitectura da civilização Humana que habita o terceiro astro maior a contar do Sol.

Os Homens sempre procuraram mostrar os seus edifícios como sendo uma imagem do seu poder. E tal como na corrida espacial, a construção dos mega-arranha-céus modernos não é uma representação de cultura, interesse científico ou mesmo de investimento económico. A construção destas estruturas é sinónimo de poder, tal como eram para os antepassados dos Homens ditos modernos os menires, as pirâmides, as catedrais ou os templos orientais.

Ficam aqui alguns exemplos:

Burj Dubai no Dubai, Emirados Árabes Unidos (Fonte: Wikimedia)

Chicago Spire, Estados Unidos da América. (Fonte: Wikimedia)

Panorama de Hong Kong. (Fonte: Wikimedia)

Taipei 101, na cidade de Taipé, Taiwan ou República da China. (Fonte: Wikimedia)


CCTV (Televisão estadual chinesa) em Pequim, República Popular da China. (Fonte: Wikimedia)

Bairro de La Défense em Paris, França, União Europeia. (Fonte: Wikimedia)



Manhattan, Nova Iorque, Estados Unidos da América. (Fonte: Wikimedia)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Observatório Astronómico de Fronteira

O observatório astrónomico de Fronteira (Alto Alentejo) foi inaugurado na sexta-feira passada pelo Sr. Presidente da República Professor Aníbal Cavaco Silva e representa um investimento avançado em Astronomia no nosso país.



Observatório Astronómico de Fronteira. (Fonte: Astrosurf)

O observatório encontra-se equipado com um planetário, uma área de arqueologia, biofísica, geologia e outra dedicada às energias renováveis. O espaço contém também um jardim dedicado à Astronomia, uma biblioteca, uma sala para pernoitar e uma sala de leitura. Mas a pérola vai mesmo para a cúpula do observatório.

As universidades envolvidas neste projecto são a Universidade do Porto, a Nova de Lisboa e a de Évora. O observatório teve um investimento de 2,5 milhões de Euros e é o observatório com maior qualidade de todo o país.

Agora mesmo... só falta dar um pulinho até Ribeira Grande, no concelho de Fronteira.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Água em Marte

A sonda espacial MRO, da NASA (acrónimo de Mars' Reconnaissance Orbiter) analisou a composição química de algumas rochas na superfície marciana. A conclusão veio apoiar e dar mais ênfase às descobertas feitas pela sua parceira em órbita marciana, a Mars Express, da Agência Espacial Europeia. As sondas investigavam a concentração de um tipo de rochas, os filossilicatos que funcionam como prova da existência de água no estado líquido à superfície.

A descoberta centrou-se no hemisfério meridional do planeta e vem reforçar a teoria de que Marte já foi mais quente no passado e que tinha (entre outras) condições essenciais para o desenvolvimento de vida bacteriana. A existência de água no estado líquido, em abundância, e à superfície planetária, remonta ao período entre há 4,6 e 3,8 biliões de anos. Contudo, existem outros períodos cruciais na História da água em Marte, como a formação de vários canais resultantes de cheias diluvianas à cerca de 2,8 biliões de anos.

Possível imagem de Marte com oceanos e com vida vegetal, se as condições que existiram tivessem sido outras. (Fonte: NASA)

Pensa-se que este tipo de rochas também exista no hemisfério setentrional, ajudando a teoria de um grande oceano de água nesse hemisfério. Aliás, a geologia e a cartografia admitem a ideia de água abundante em Marte (em passado longínquo ou mais recente) através do estudo de fenómenos actuais como avalanches em crateras (provocadas por fluídos em movimento), e através do estudo de formações geográficas, características da passagem de água como o delta de um rio ou uma linha de costa.

Possível delta de um rio marciano à beira da cratera Jezero. Podem-se visualizar formações relacionadas com a deposição de sedimentos no delta do rio, exactamente como acontece nos rios terrestres. Cores alteradas para estudar a diferente composição química das rochas na cratera. (Fonte: NASA)

terça-feira, 15 de julho de 2008

MESSENGER to Mercury

Superfície do planeta Mercúrio tirada pelos instrumentos a bordo da sonda MESSENGER. (Fonte: NASA)


A missão MESSENGER, ao contrário do programa que utilizamos frequentemente no pc, é uma sonda espacial da NASA, que foi enviada para o planeta Mercúrio. O seu acrónimo resulta dos principais objectivos da missão: MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry and Ranging. A sonda foi lançada do Cape Canaveral por um Boeing Delta II e realizou uma primeira passagem (flyby) sobre o planeta, a 14 de Janeiro deste ano. A próxima passagem será em Outubro e a sonda entrará em órbita definitiva em Setembro de 2009. Neste flyby viajou a cerca de 200 km da superfície do planeta.
Os resultados deste primeiro flybly sobre a superfície de Mercúrio deixaram os cientistas estupefactos: (i) descobriu-se água na exosfera do planeta; (ii) existência de vulcanismo no passado (revelado pela existência de enormes planícies de lava solidificada) e (iii) comprovou-se a existência de um núcleo no estado líquido, prova de que o planeta ainda guarda algum calor residual, ainda resultante dos tempos da formação do sistema solar.


A superfície de Mercúrio nunca antes observada foi revelada pela sonda MESSENGER. Apesar de mostrar parecenças com a Lua o planeta Mercúrio apresenta muitas diferenças mesmo com os restantes planetas terrestres. Uma delas é a existência de uma magnetosfera e de um núcleo de grandes dimensões. Os núcleos dos outros planetas encontram-se correlacionados similarmente com a restante estrutura.
(Fonte: NASA)


A missão tem como principais objectivos a cartografia do planeta, o estudo da magnetosfera e da exosfera bem como a natureza da sua história geológica. Um dos aspectos que mais intriga os cientistas é a existência de um grande núcleo no interior do planeta, cujas dimensões são proporcionalmente exageradas em relação ao resto da sua estrutura. A presença de magnetismo comparável com o terrestre é também motivo de estudo - Mercúrio é único planeta terrestre (além da Terra) que possui uma magnetosfera que desvia o vento solar da superfície do planeta. A sonda também encontra-se equipada para estudar a composição química da superfície de Mercúrio.

A missão terá a duração de um ano. A sonda, antes de orbitar o planeta Mercúrio, necessita de se posicionar. A primeira coisa a ter em conta é a imensa gravidade do Sol e a quantidade de energia dispendida com o trajecto da sonda desde a Terra. Para diminuir a quantidade de energia necessária para a sonda recorreu-se a um sistema de 'catapultas'. Passo a explicar: utilizando a gravidade de um planeta próximo é possível acelerar uma sonda - ou qualquer outro objecto - sem custos de energia. Os astrónomos definem este conceito de impulso gravitacional e é muito utilizado nas sondas que exploram o Sistema Solar. O outro problema reside também na poupança de energia, mas por outra característica: qualquer objecto que se aproxime do Sol sofre uma aceleração da velocidade, exactamente devido à sua gravidade imensa. Como a energia necessária para realizar um 'travão' seria muito elevada - os cientistas recorreram a este sistema de passagens de forma a que a sonda não viage 'directamente', mas sim indirectamente até Mercúrio. O resultado é uma poupança de energia compensada com o impulso gravitacional que torna viável o conceito. Vejamos a próxima imagem.



Trajectória da sonda MESSENGER com as suas passagens pelos planetas Terra, Vénus e Mercúrio, respectivamente. Desde o lançamento da sonda até esta entrar em órbita do planeta Mercúrio decorrerão cerca de 5 anos. (Fonte: NASA)


Todo este sistema é ainda mais complexo porque esta 'assistência de gravidade' cedida pelos três planetas: Terra, Vénus e Mercúrio, permite que a sonda adeque a inclinação, raio e forma da órbita à de Mercúrio, ao mesmo tempo que impede que esta se despenhe contra o Sol ou entre numa órbita caótica.

A sonda após ter sido lançada na Terra sobrevoou o sistema Terra-Lua e Vénus, este último duas vezes. Depois deste primeiro flyby, a sonda entrará em orbita hermesiana (de Mercúrio) a partir de 29 de Setembro de 2009 a manter-se até, pelo menos, 18 de Março de 2011. Mas, antes, irá passar pelo planeta para obter mais um impulso gravitacional. Esse encontro será em Outubro e permitirá aos cientistas observar a restante parte do hemisfério que ainda não fora cartografado. A entrada definitiva da sonda em órbita encontrará o mesmo hemisfério iluminado pela luz do Sol. A sua órbita será elíptica de modo a que a sonda possa estudar os pólos de Mercúrio (os quais pensa-se conter reservatórios de gelo de água).


Bacia de Caloris no planeta Mercúrio. Os cientistas consideravam a possível dimensão da Bacia uma vez que ainda não se encontrava totalmente cartografada. As planícies em Mercúrio diferem dos 'mares' lunares porque possuem muitas crateras entre si, não podendo formar amplas áreas como na Lua. Outra característica do planeta é a presença de cordilheiras formadas pela constrição do mesmo, por consequência do arrefecimento planetário. (Fonte: NASA)

A sonda MESSENGER é a primeira sonda a visitar o planeta desde que a sonda Mariner 10 (também da NASA) o orbitou 3 vezes, entre 1974 e 1975. A sonda cartografou menos de metade da superfície do planeta (cerca de 45%) e deixou muitos mistérios por resolver aos quais os cientistas esperam obter resposta agora. A Agência Espacial Europeia e a JAXA (Agência Espacial Japonesa, Japanese Aerospace Exploration Agency) esperam lançar a sonda BepiColombo em 2012 ou 2013. O consórcio europeu e nipónico espera atingir o seu objectivo em 2019. Mais uma vitória para os americanos e a sua agência espacial.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Constelações, Asterismos e a breve História do Mundo

Durante muitos milhares de anos, as diferentes civilizações que povoaram a terra sempre procuraram criar uma representação terrestre no céu. Essa representação baseava-se na identificação de padrões, mais ou menos, simples que tinham algo relacionado com uma actividade, deus, animal ou lenda do seu quotidiano.

Segundo a International Astronomical Union, Constelação é uma área no céu e não necessariamente um Asterismo (conjunto de estrelas). Paradoxalmente, as constelações têm origem em Asterismos criados pelos primeiros Homens. Por exemplo, no contexto astronómico, a Ursa Maior é mais que as suas sete estrelas principais: são as sete estrelas principais, as restantes estrelas dentro da área celeste que corresponde à constelação e todos os corpos do céu profundo que também se encontrarem nessa mesma área (i.e. galáxias, nebulosas).

Ursa Maior é uma constelação em que existe um conjunto de estrelas facilmente identificável, i.e. Asterismo, limitada na área da abóbada celeste (linha amarela a tracejado), além das estrelas são também identificados como parte da constelação vários objectos do céu profundo como galáxias. (Fonte: Wikimedia)


Assim, qualquer pessoa pode identificar entre as estrelas, um padrão familiar - em Portugal, é frequente ouvir-se chamar, no meio rural, às sete principais estrelas da Ursa Maior, o carro ou o arado. O carro e o arado são Asterismos a Ursa Maior, a constelação. Por uma questão de simplificação, o cérebro humano reconhece primeiro os padrões mais simples antes de interpretar os complexos. E mesmo no quotidiano, quando nos referimos à Ursa Maior ocorrerá a muitos astrónomos a ideia das sete estrelas antes de pensarem imediatamente noutro objecto. Isto simplesmente porque se trata de uma questão de economia do pensamento e de aptidão prática na realização ou idealização de qualquer objecto. Aqui, e neste caso, a diferença é entre asterismo e constelação.

A constelação é, também, uma ideia enviesada pela nossa posição permanente na terra: as estrelas que formam uma constelação não se encontram (necessariamente) dispostas a distâncias idênticas em relação à Terra. Isto trata-se de uma questão de perspectiva. O que se passa é que as estrelas encontram-se na mesma direcção do céu com que as observamos aqui na Terra. E, de facto, se pudéssemos viajar para um sistema solar diferente do nosso veríamos que todos os asterismos encontrados iriam progressivamente desaparecendo, exactamente porque este é um conceito antropocêntrico.

Ursa Maior com as sete principais estrelas. (Fonte: Autoria do blog)

Ainda sobre as constelações e juntando um pouco de Arqueologia à Astronomia - a Arqueoastronomia - , desde 13 000 a.C. que se imaginam as constelações (pelo menos desde que existem registos históricos - como as pinturas nas cavernas dos primeiros homens). As primeiras civilizações denominaram os Asterismos e a sua diferenciação com o conceito com Constelação era inexistente. Os primeiros homens repararam na permanência do céu nocturno e na estabilidade e tranquilidade que este trazia à terra - pensaram tratar-se de representações dos seus inúmeros deuses e heróis. Assim, era preciso prestar homenagem aos mesmos e estudar as suas manifestações. Para estas civilizações, os eclipses e os cometas eram sempre um prenúncio de desgraça porque se quebrava a ordem universal do firmamento e a composição da espinha dorsal da noite. Descobriram, também, o movimento de estrelas errantes ou de 'vagabundos' - os planetas.


Pintura rupestre datada de há 15 000 anos em Lascaux, sul de França. Encontra-se representado um Touro e um asterismo à sua direita, que tem a conformação das Plêiades. Curiosamente, este touro encontra-se em relação às 'Plêiades' na mesma posição que a constelação do Touro e as Plêiades ocupam no céu. Coincidência? Ou prova de que as constelações são bem mais antigas do que o que se pensava? (Fonte: International Astronomical Union)

Mas foi na permanência da ordem das coisas, no profundo céu, que descobriram a concepção de algo superior e divino. Elaboraram os primeiros calendários solares ou lunares e descobriram a noção do tempo através dos equinócios e dos solstícios. Os pontos mais alto, mais baixo e intermédios na altura do sol do céu. Quando adoptaram uma vida sedentária, passaram a associar o nascimento de uma estrela ou o seu ocaso com as cheias fluviais (e.g. o caso da estrela Sírio no Antigo Egipto), e com o tempo das colheitas ou das sementeiras. O nome 'Astronomia' deriva mesmo desses tempos antigos - embora seja de origem grega clássica - Astéri + nómos: αστέρι + νόμος, as leis das estrelas. Na vida dos primeiros homens, dificilmente arranjar-se-ia melhor definição para o que hoje é a ciência. Num mundo pré-clássico em que a diferença entre a vida e a morte, a paz e a guerra, uma boa colheita e a fome eram ténues. A Astronomia marcava a linha da riqueza e do conhecimento entre os povos, baseados na sua capacidade de realizar previsões. A subtil diferença entre barbárie e civilização.



As Pirâmides de Gizé são o apogeu arquitectónico do Egipto. Sem os conhecimentos de Astronomia, a civilização egípcia, tal como outras civilizações pré-clássicas, nunca poderiam ter chegado ao seu nível de excelência sem dominar a previsão (com precisão) do tempo e das colheitas. Um conceito simples mas indispensável na vida dos primeiros homens sedentários, que procuravam a compreensão do meio que os envolvia - e a própria estabilidade política e da Civilização. (Fonte: Wikimedia)

domingo, 13 de julho de 2008

Vega

Vega, Alpha Lyrae, ou simplesmente abreviada para a Lyr, é a estrela mais brilhante da constelação da Lira e umas das estrelas mais brilhantes do hemisfério Norte e de todo o firmamento. De facto, é a quinta estrela mais brilhante de todo o céu.
Constelação da Lira, com Alpha Lyrae assinalada. (Fonte: Wikipedia)

Vega é uma estrela relativamente próxima do nosso sistema Solar e, portanto, pela sua magnitude relativa é uma das estrelas mais brilhantes do céu. A estrela situa-se a cerca de 25,3 anos-luz da Terra, o que significa que a luz demora cerca de 25 anos a chegar à Terra. Segundo a teoria da Relatividade de Einstein, nada pode viajar a velocidades superiores à da luz no vácuo, i.e. no espaço aberto. Tal corresponde a um facto interessante, nós estamos a ver a estrela tal e qual como ela era há 25 anos, ou seja, como ela era antes de pessoas que têm a minha idade, terem nascido. É confuso e surpreendente ao mesmo tempo, mas o facto reside no seguinte: olhar à distância é olhar sempre para o passado. No nosso quotidiano não nos vemos confrontados com essa situação uma vez que as distâncias são bem mais curtas. Mas e, uma vez que baseamos boa parte da nossa informação sensorial na luz, é estranho e bizarro pensarmos que a velocidade da luz também tem o seu custo tempo. Mas isto será tema para outro post. Regressemos a Vega.

Vega além de ser uma das estrelas mais brilhantes do céu é também uma das mais exaustivamente estudadas pelos astrónomos. Alguns cientistas pensam mesmo que poderá existir um planeta com a massa do nosso gigante de gás Júpiter. Mas Vega é muito mais conhecida entre os astrónomos pelo seu disco de poeiras e gás que rodeia a mesma. Este disco é estudado, não por método observacional directo, dependente do espectro de luz captado pela visão humana, mas por radiação infravermelha (IV). A estrela é pobre em metais (comparativamente ao nosso Sol), o que poderá ser uma indicação de um sistema planetário pobre nos mesmos, i.e. pobre em planetas rochosos, metálicos, do tipo terrestre. É mais provável que o disco interestelar possua condições para a formação de gigantes gasosos.

Vega é uma estrela muito mais brilhante que o nosso Sol, a sua luminosidade é equivalente à de 37 sóis. A estrela é classificada pelo seu tipo espectral em A0 (A-zero) o que indica que é uma estrela branco azulada. Esta estrela terá um tempo de vida muito mais curto do que o do Sol (calcula-se que este tenha 4,6 mil milhões de anos), pois ambos encontram-se a meio da sua vida e Vega tem entre 386 a 511 milhões de anos. Tal como a maioria das estrelas (Sol incluído), Vega crescerá até se tornar uma gigante vermelha. Posteriormente libertará as suas camadas exteriores e converter-se-á numa anã branca (uma estrela com o tamanho do nosso planeta) até definhar e converter-se numa anã preta, um objecto frio e morto, perdido na vastidão do espaço.


Vega observada pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA. (Fonte: Space Telescope Spitzer Database)

Há cerca de 14 000 anos (no ano 12 000 a.C), devido a um fenómeno chamado de Precessão dos Equinócios, a estrela foi a nossa estrela polar. Este fenómeno pela sua importância na arqueoastronomia terá direito a um post próprio. Prevê-se que no ano 14 000 d.C. a estrela voltará a encontrar-se sob o pólo celeste norte.

Vega sempre teve uma influência para as inúmeras civilizações que povoaram a terra, para os árabes, que lhe deram o nome, era Wega ou a estrela que cai - referência à antiga constelação da Lira que era ocupada por uma águia. Para os assírios, uma civilização baseada no que é actualmente o norte do Iraque, era o juíz do firmamento e para os seus contemporâneos babilónios era o mensageiros dos céus. Vega uma estrela que durante o verão nunca se põe abaixo do horizonte, marcava para os antigos romanos e gregos o início do Outono quando mergulhava no horizonte. E foi exactamente dos gregos que a constelação herdou o seu significado actual, uma lira. Que na mitologia grega correspondia à lira de Orfeu.

Mas, para nós, ocidentalizados nas nossas cidades e vidas urbanas, Vega ainda é das poucas estrelas que não ficam desaparecem sob o brilho intenso dos nossos postes de iluminação.
Qualquer um de nós pode identificar o asterismo (forma geométrica esboçada pelas estrelas) em forma de triângulo - correctamente denominado de triângulo de Verão formado pelas estrelas Deneb (no Cisne), Altair (na Águia) e Vega, as quais marcam os vértices deste triângulo.

O triângulo ocupa uma posição alta e quase permamente ao longo das longas noites de verão. Vega é a estrela mais brilhante deste triângulo enquanto Altair é a mais 'baixa' em termos de altura/altitude (ascensão recta) no céu. Já por si, Deneb é a estrela que está no ponto mais alto de uma cruz (a constelação do Cisne) - segundo a mitologia cristã esta constelação tem a forma de uma cruz. Por vezes, o Cisne é apelidado de Cruzeiro do Norte, por oposição ao Cruzeiro do Sul, muito mais austral e não visível nas nossas latitudes lusitanas.
O triângulo não é uma constelação mas sim um asterismo. Na seguinte imagem encontra-se representado o triângulo de verão a amarelo claro e as principais constelações a branco.


Triângulo de Verão (Fonte: Autoria do Blog)

Vega foi o tema principal sobre o filme e livro 'Contacto' de Carl Sagan que abordava a descoberta de vida inteligente extraterrestre através do programa SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence). A mensagem recebida pela Dr.ª Ellen Arroway provinha exactamente da estrela Vega.

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Magnitude Relativa ou Aparente » é a magnitude de uma estrela ou outro corpo celeste na abóbada celeste. Foi um conceito desenvolvido e trabalhado por Hiparco, na Grécia antiga. Destaca-se do conceito magnitude absoluta, cujo conceito assenta na comparação do brilho dos corpos celestes a uma distância padronizada de 10 parsecs, sendo que cada objecto para a magnitude aparente é catalogado de acordo com a intensidade de brilho que provém do mesmo para um observador terrestre. Na prática, magnitude aparente corresponde ao brilho que associamos a determinado objecto quando o observamos no firmamento.

sábado, 12 de julho de 2008

Mare Tranquillitatis

Estava aqui ocupado a pensar nas estrelas quando decidi que criar um blog sobre Astronomia seria algo interessante. Este pensamento já me havia ocorrido à cerca de uns dois anos.
E é algo de indescritível o que sempre senti pela Astronomia, esta admiração, 'espanto' e curiosidade com o que se passa acima de nós. A ideia da transcendência, do tempo comum e incomum, da dualidade das coisas e essa permanente espiritualidade do firmamento chamaram-me. Normalmente só se ouve essa voz dentro de nós uma vez na vida e, como outras coisas memoráveis, não volta, não regressa, perde-se se não acorrermos ao seu chamamento. Eu ouvi, eu acreditei.

Porquê «Mar da Tranquilidade»? Além de ser uma alusão a uma região num corpo celeste que nos é particularmente familiar (a Lua) com o nosso dia-a-dia é o seu próprio nome ligado ao seu misticismo como um dos pontos de partida (ou de chegada) na exploração humana do espaço. Tranquillitatis porque o espaço é tranquilidade humana porque é redenção e mistério do seu mistério. O espaço é espiritual, mas irreligioso. É como uma filosofia de libertação. O que busco é, nem mais nem menos, o seu epíteto tão luminoso e triunfante, como é a face da Lua. A noite é grande e perigosa. Mas a noite é o arranjar do dia, o caminho iluminado pela Lua e pelas estrelas e outros corpos celestes onde tudo se compõe na essência mais profunda da noite. O dia são os espelhos e a noite o nú completo, dissecado, aberto. A noite é a planificação do dia e só no interior, âmago e sentimento das coisas é que a mudança da face é permanente e inteira. A noite é a redenção escrita nestas linhas. A Astronomia é a ciência é o tempo comum de tudo o que existe, existiu ou alguma vez existirá. Astronomia é Poesia, Poesia é Dualidade e esta é existência - a procura infinita de algo maior. E eu escrevo-o porque sinto, não porque desejo escrever.