Vega, Alpha Lyrae, ou simplesmente abreviada para a Lyr, é a estrela mais brilhante da constelação da Lira e umas das estrelas mais brilhantes do hemisfério Norte e de todo o firmamento. De facto, é a quinta estrela mais brilhante de todo o céu.
Constelação da Lira, com Alpha Lyrae assinalada. (Fonte: Wikipedia)Vega é uma estrela relativamente próxima do nosso sistema Solar e, portanto, pela sua magnitude relativa é uma das estrelas mais brilhantes do céu. A estrela situa-se a cerca de 25,3 anos-luz da Terra, o que significa que a luz demora cerca de 25 anos a chegar à Terra. Segundo a teoria da Relatividade de Einstein, nada pode viajar a velocidades superiores à da luz no vácuo, i.e. no espaço aberto. Tal corresponde a um facto interessante, nós estamos a ver a estrela tal e qual como ela era há 25 anos, ou seja, como ela era antes de pessoas que têm a minha idade, terem nascido. É confuso e surpreendente ao mesmo tempo, mas o facto reside no seguinte: olhar à distância é olhar sempre para o passado. No nosso quotidiano não nos vemos confrontados com essa situação uma vez que as distâncias são bem mais curtas. Mas e, uma vez que baseamos boa parte da nossa informação sensorial na luz, é estranho e bizarro pensarmos que a velocidade da luz também tem o seu custo tempo. Mas isto será tema para outro post. Regressemos a Vega.
Vega além de ser uma das estrelas mais brilhantes do céu é também uma das mais exaustivamente estudadas pelos astrónomos. Alguns cientistas pensam mesmo que poderá existir um planeta com a massa do nosso gigante de gás Júpiter. Mas Vega é muito mais conhecida entre os astrónomos pelo seu disco de poeiras e gás que rodeia a mesma. Este disco é estudado, não por método observacional directo, dependente do espectro de luz captado pela visão humana, mas por radiação infravermelha (IV). A estrela é pobre em metais (comparativamente ao nosso Sol), o que poderá ser uma indicação de um sistema planetário pobre nos mesmos, i.e. pobre em planetas rochosos, metálicos, do tipo terrestre. É mais provável que o disco interestelar possua condições para a formação de gigantes gasosos.
Vega é uma estrela muito mais brilhante que o nosso Sol, a sua luminosidade é equivalente à de 37 sóis. A estrela é classificada pelo seu tipo espectral em A0 (A-zero) o que indica que é uma estrela branco azulada. Esta estrela terá um tempo de vida muito mais curto do que o do Sol (calcula-se que este tenha 4,6 mil milhões de anos), pois ambos encontram-se a meio da sua vida e Vega tem entre 386 a 511 milhões de anos. Tal como a maioria das estrelas (Sol incluído), Vega crescerá até se tornar uma gigante vermelha. Posteriormente libertará as suas camadas exteriores e converter-se-á numa anã branca (uma estrela com o tamanho do nosso planeta) até definhar e converter-se numa anã preta, um objecto frio e morto, perdido na vastidão do espaço.
Vega observada pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA. (Fonte: Space Telescope Spitzer Database)
Há cerca de 14 000 anos (no ano 12 000 a.C), devido a um fenómeno chamado de Precessão dos Equinócios, a estrela foi a nossa estrela polar. Este fenómeno pela sua importância na arqueoastronomia terá direito a um post próprio. Prevê-se que no ano 14 000 d.C. a estrela voltará a encontrar-se sob o pólo celeste norte.
Vega sempre teve uma influência para as inúmeras civilizações que povoaram a terra, para os árabes, que lhe deram o nome, era Wega ou a estrela que cai - referência à antiga constelação da Lira que era ocupada por uma águia. Para os assírios, uma civilização baseada no que é actualmente o norte do Iraque, era o juíz do firmamento e para os seus contemporâneos babilónios era o mensageiros dos céus. Vega uma estrela que durante o verão nunca se põe abaixo do horizonte, marcava para os antigos romanos e gregos o início do Outono quando mergulhava no horizonte. E foi exactamente dos gregos que a constelação herdou o seu significado actual, uma lira. Que na mitologia grega correspondia à lira de Orfeu.
Mas, para nós, ocidentalizados nas nossas cidades e vidas urbanas, Vega ainda é das poucas estrelas que não ficam desaparecem sob o brilho intenso dos nossos postes de iluminação.
Qualquer um de nós pode identificar o asterismo (forma geométrica esboçada pelas estrelas) em forma de triângulo - correctamente denominado de triângulo de Verão formado pelas estrelas Deneb (no Cisne), Altair (na Águia) e Vega, as quais marcam os vértices deste triângulo.
O triângulo ocupa uma posição alta e quase permamente ao longo das longas noites de verão. Vega é a estrela mais brilhante deste triângulo enquanto Altair é a mais 'baixa' em termos de altura/altitude (ascensão recta) no céu. Já por si, Deneb é a estrela que está no ponto mais alto de uma cruz (a constelação do Cisne) - segundo a mitologia cristã esta constelação tem a forma de uma cruz. Por vezes, o Cisne é apelidado de Cruzeiro do Norte, por oposição ao Cruzeiro do Sul, muito mais austral e não visível nas nossas latitudes lusitanas.
O triângulo não é uma constelação mas sim um asterismo. Na seguinte imagem encontra-se representado o triângulo de verão a amarelo claro e as principais constelações a branco.

Triângulo de Verão (Fonte: Autoria do Blog)
Vega foi o tema principal sobre o filme e livro 'Contacto' de Carl Sagan que abordava a descoberta de vida inteligente extraterrestre através do programa SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence). A mensagem recebida pela Dr.ª Ellen Arroway provinha exactamente da estrela Vega.
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Magnitude Relativa ou Aparente » é a magnitude de uma estrela ou outro corpo celeste na abóbada celeste. Foi um conceito desenvolvido e trabalhado por Hiparco, na Grécia antiga. Destaca-se do conceito magnitude absoluta, cujo conceito assenta na comparação do brilho dos corpos celestes a uma distância padronizada de 10 parsecs, sendo que cada objecto para a magnitude aparente é catalogado de acordo com a intensidade de brilho que provém do mesmo para um observador terrestre. Na prática, magnitude aparente corresponde ao brilho que associamos a determinado objecto quando o observamos no firmamento.
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