Este artigo é sobre a estrela τ Ceti, ou seja a estrela Tau (letra grega) da constelação de Cetus (Baleia). Tau Ceti não possui um nome próprio, mas sim, um nome que resulta da catalogação de estrelas. A estrela é particularmente interessante porque, para além de se encontrar no nosso quintal galáctico (está a 11,9 anos-luz do Sistema Solar, tornando-a uma das estrelas mais próximas de nós), é uma estrela com propriedades e características muito semelhantes às do Sol.
Apesar de ser parecida com o Sol, Tau Ceti, é uma estrela com baixo índice de metalicidade, o que significa que terá menos probabilidades de desenvolver planetas rochosos, como a Terra. Além disto, o sistema de Tau Ceti possui um disco de poeiras que diminui as probabilidades de vida neste sistema - devido aos frequentes impactos contra possíveis planetas.

Constelação da Baleia com a estrela Tau Ceti assinalada. (Fonte: Autoria do Blog)
Contudo, Tau Ceti é uma estrela muito mais 'sossegada' do que o nosso Sol. A estrela não apresenta a mesma quantidade/tipo de actividade solar. Apesar de apresentar estas diferenças, as semelhanças nas diferenças aproximam as duas estrelas.
Para já, e ao contrário, de algumas estrelas em torno das quais foram descobertos planetas do tipo de Júpiter mas em órbitas mais próximas da sua estrela* do que a de Mercúrio ao Sol, Tau Ceti não apresenta nenhum planeta desta categoria. Isto constituí uma maior probabilidade de que a estrela possua um sistema solar um pouco mais parecido com o nosso.
A estrela tem apenas entre 70 a 80% do diâmetro do Sol e uma luminosidade de apenas 55 % da do Sol, ainda assim apresenta um tipo espectral semelhante ao do Sol, G8 (o que lhe confere uma coloração similar à do Sol). O facto de a estrela possuir uma atmosfera mais calma do que a solar aumenta as probabilidades de vida num hipotético planeta em torno da mesma. Para que um eventual planeta com as características da Terra existir em torno de Tau Ceti, tinha que estar a uma distância de 0,7 UA** da sua estrela, i.e. tinha que estar à mesma distância de Vénus do Sol. Se pudéssemos transportar o planeta Vénus para este 'sistema planetário', o planeta teria fortes possibilidades de ter seguido, na sua evolução, um caminho similar ao da Terra. O facto do planeta ter que se encontrar mais perto para poder deve-se, entre coisas, à diminuição da luminosidade de Tau Ceti em comparação com o Sol.

O Sol (à esquerda) apresenta muito mais actividade do que Tau Ceti (à direita), contudo este último é um bom candidato para os programas de pesquisa de vida fora do nosso Sistema Solar. (Fonte: NASA)
Até este momento, não foram detectados planetas em torno de tau Ceti, o que é positivo: pode constituir-se, assim, um sinal de que os planetas têm dimensões aos nossos companheiros rochosos do Sistema Solar (e que, por isso mesmo, ainda não existem telescópios espaciais com resolução suficiente para os detectar). Por outro lado, há um preço a pagar se não existirem gigantes de gás num sistema deste género, pois este tipo de planeta 'desvia' asteróides mortíferos na sua direcção, ajudando a 'limpar' o espaço interplanetário salvando os planetas rochosos internos. Segundo os estudos apresentados, existe um disco de asteróides e de cometas (cerca de 10 vezes maior que o nosso) em torno da estrela o que poderá significar a inexistência de gigantes de gás em torno da mesma, com previsíveis consequências para a sorte dos possíveis planetas terrestres lá existentes.
Contudo, este disco de asteróides e de cometas encontra-se a cerca de 10-50 UA (o do nosso Sol estende-se desde os 35-50 UA). Portanto, o big deal será com o seu bordo interno, o qual poderá ser explicado pela ausência de planetas que ajudassem a limpar os 'detritos planetários' nessa área. Mas 10 UA é uma distância confortável dos 0,7 UA a que se pode encontrar a nossa nova terra. E ninguém nos garante que não exista um gigante de gás mais pequeno a filtrar os asteróides e cometas (por ser exactamente mais pequeno é que também é mais difícil de detectar do que um grande, como Júpiter). O futuro parece ser risonho para nós.
Apesar dos relativos 'nãos' eles não passam mesmo disso, de relativos. Só, à medida que a tecnologia evolui é que poderemos conhecer melhor os mistérios desta estrela com potencial para nós Humanos e já aqui tão perto, a apenas 11,9 anos-luz de casa.
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* Hot Jupiter
** UA » Unidade Astronómica, é idêntica à distância entre a Terra e o Sol. É basicamente utilizada para medir distâncias entre astros num sistema solar. Representa, sensivelmente, 149 600 000 Km.
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