segunda-feira, 14 de julho de 2008

Constelações, Asterismos e a breve História do Mundo

Durante muitos milhares de anos, as diferentes civilizações que povoaram a terra sempre procuraram criar uma representação terrestre no céu. Essa representação baseava-se na identificação de padrões, mais ou menos, simples que tinham algo relacionado com uma actividade, deus, animal ou lenda do seu quotidiano.

Segundo a International Astronomical Union, Constelação é uma área no céu e não necessariamente um Asterismo (conjunto de estrelas). Paradoxalmente, as constelações têm origem em Asterismos criados pelos primeiros Homens. Por exemplo, no contexto astronómico, a Ursa Maior é mais que as suas sete estrelas principais: são as sete estrelas principais, as restantes estrelas dentro da área celeste que corresponde à constelação e todos os corpos do céu profundo que também se encontrarem nessa mesma área (i.e. galáxias, nebulosas).

Ursa Maior é uma constelação em que existe um conjunto de estrelas facilmente identificável, i.e. Asterismo, limitada na área da abóbada celeste (linha amarela a tracejado), além das estrelas são também identificados como parte da constelação vários objectos do céu profundo como galáxias. (Fonte: Wikimedia)


Assim, qualquer pessoa pode identificar entre as estrelas, um padrão familiar - em Portugal, é frequente ouvir-se chamar, no meio rural, às sete principais estrelas da Ursa Maior, o carro ou o arado. O carro e o arado são Asterismos a Ursa Maior, a constelação. Por uma questão de simplificação, o cérebro humano reconhece primeiro os padrões mais simples antes de interpretar os complexos. E mesmo no quotidiano, quando nos referimos à Ursa Maior ocorrerá a muitos astrónomos a ideia das sete estrelas antes de pensarem imediatamente noutro objecto. Isto simplesmente porque se trata de uma questão de economia do pensamento e de aptidão prática na realização ou idealização de qualquer objecto. Aqui, e neste caso, a diferença é entre asterismo e constelação.

A constelação é, também, uma ideia enviesada pela nossa posição permanente na terra: as estrelas que formam uma constelação não se encontram (necessariamente) dispostas a distâncias idênticas em relação à Terra. Isto trata-se de uma questão de perspectiva. O que se passa é que as estrelas encontram-se na mesma direcção do céu com que as observamos aqui na Terra. E, de facto, se pudéssemos viajar para um sistema solar diferente do nosso veríamos que todos os asterismos encontrados iriam progressivamente desaparecendo, exactamente porque este é um conceito antropocêntrico.

Ursa Maior com as sete principais estrelas. (Fonte: Autoria do blog)

Ainda sobre as constelações e juntando um pouco de Arqueologia à Astronomia - a Arqueoastronomia - , desde 13 000 a.C. que se imaginam as constelações (pelo menos desde que existem registos históricos - como as pinturas nas cavernas dos primeiros homens). As primeiras civilizações denominaram os Asterismos e a sua diferenciação com o conceito com Constelação era inexistente. Os primeiros homens repararam na permanência do céu nocturno e na estabilidade e tranquilidade que este trazia à terra - pensaram tratar-se de representações dos seus inúmeros deuses e heróis. Assim, era preciso prestar homenagem aos mesmos e estudar as suas manifestações. Para estas civilizações, os eclipses e os cometas eram sempre um prenúncio de desgraça porque se quebrava a ordem universal do firmamento e a composição da espinha dorsal da noite. Descobriram, também, o movimento de estrelas errantes ou de 'vagabundos' - os planetas.


Pintura rupestre datada de há 15 000 anos em Lascaux, sul de França. Encontra-se representado um Touro e um asterismo à sua direita, que tem a conformação das Plêiades. Curiosamente, este touro encontra-se em relação às 'Plêiades' na mesma posição que a constelação do Touro e as Plêiades ocupam no céu. Coincidência? Ou prova de que as constelações são bem mais antigas do que o que se pensava? (Fonte: International Astronomical Union)

Mas foi na permanência da ordem das coisas, no profundo céu, que descobriram a concepção de algo superior e divino. Elaboraram os primeiros calendários solares ou lunares e descobriram a noção do tempo através dos equinócios e dos solstícios. Os pontos mais alto, mais baixo e intermédios na altura do sol do céu. Quando adoptaram uma vida sedentária, passaram a associar o nascimento de uma estrela ou o seu ocaso com as cheias fluviais (e.g. o caso da estrela Sírio no Antigo Egipto), e com o tempo das colheitas ou das sementeiras. O nome 'Astronomia' deriva mesmo desses tempos antigos - embora seja de origem grega clássica - Astéri + nómos: αστέρι + νόμος, as leis das estrelas. Na vida dos primeiros homens, dificilmente arranjar-se-ia melhor definição para o que hoje é a ciência. Num mundo pré-clássico em que a diferença entre a vida e a morte, a paz e a guerra, uma boa colheita e a fome eram ténues. A Astronomia marcava a linha da riqueza e do conhecimento entre os povos, baseados na sua capacidade de realizar previsões. A subtil diferença entre barbárie e civilização.



As Pirâmides de Gizé são o apogeu arquitectónico do Egipto. Sem os conhecimentos de Astronomia, a civilização egípcia, tal como outras civilizações pré-clássicas, nunca poderiam ter chegado ao seu nível de excelência sem dominar a previsão (com precisão) do tempo e das colheitas. Um conceito simples mas indispensável na vida dos primeiros homens sedentários, que procuravam a compreensão do meio que os envolvia - e a própria estabilidade política e da Civilização. (Fonte: Wikimedia)

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