terça-feira, 22 de julho de 2008

"Paint the sky with stars" | Enya




Suddenly before my eyes
Hues of indigo arise
With them how my spirit sighs
Paint the sky with stars

Only night will ever know
Why the heavens never show
All the dreams there are to know
Paint the sky with stars

Who has paced the midnight sky?
So a spirit has to fly
As the heavens seem so far
Now who will paint the midnight star?

Night has brought to those who sleep
Only dreams they cannot keep
I have legends in the deep
Paint the sky with stars

Who has paced the midnight sky?
So a spirit has to fly
As the heavens seem so far
Now who will paint the midnight star?

Place a name upon the night
One to set your heart alight
And to make the darkness bright
Paint the sky with stars.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

(τ) Tau Ceti

Este artigo é sobre a estrela τ Ceti, ou seja a estrela Tau (letra grega) da constelação de Cetus (Baleia). Tau Ceti não possui um nome próprio, mas sim, um nome que resulta da catalogação de estrelas. A estrela é particularmente interessante porque, para além de se encontrar no nosso quintal galáctico (está a 11,9 anos-luz do Sistema Solar, tornando-a uma das estrelas mais próximas de nós), é uma estrela com propriedades e características muito semelhantes às do Sol.

Apesar de ser parecida com o Sol, Tau Ceti, é uma estrela com baixo índice de metalicidade, o que significa que terá menos probabilidades de desenvolver planetas rochosos, como a Terra. Além disto, o sistema de Tau Ceti possui um disco de poeiras que diminui as probabilidades de vida neste sistema - devido aos frequentes impactos contra possíveis planetas.



Constelação da Baleia com a estrela Tau Ceti assinalada. (Fonte: Autoria do Blog)


Contudo, Tau Ceti é uma estrela muito mais 'sossegada' do que o nosso Sol. A estrela não apresenta a mesma quantidade/tipo de actividade solar. Apesar de apresentar estas diferenças, as semelhanças nas diferenças aproximam as duas estrelas.

Para já, e ao contrário, de algumas estrelas em torno das quais foram descobertos planetas do tipo de Júpiter mas em órbitas mais próximas da sua estrela* do que a de Mercúrio ao Sol, Tau Ceti não apresenta nenhum planeta desta categoria. Isto constituí uma maior probabilidade de que a estrela possua um sistema solar um pouco mais parecido com o nosso.

A estrela tem apenas entre 70 a 80% do diâmetro do Sol e uma luminosidade de apenas 55 % da do Sol, ainda assim apresenta um tipo espectral semelhante ao do Sol, G8 (o que lhe confere uma coloração similar à do Sol). O facto de a estrela possuir uma atmosfera mais calma do que a solar aumenta as probabilidades de vida num hipotético planeta em torno da mesma. Para que um eventual planeta com as características da Terra existir em torno de Tau Ceti, tinha que estar a uma distância de 0,7 UA** da sua estrela, i.e. tinha que estar à mesma distância de Vénus do Sol. Se pudéssemos transportar o planeta Vénus para este 'sistema planetário', o planeta teria fortes possibilidades de ter seguido, na sua evolução, um caminho similar ao da Terra. O facto do planeta ter que se encontrar mais perto para poder deve-se, entre coisas, à diminuição da luminosidade de Tau Ceti em comparação com o Sol.

O Sol (à esquerda) apresenta muito mais actividade do que Tau Ceti (à direita), contudo este último é um bom candidato para os programas de pesquisa de vida fora do nosso Sistema Solar. (Fonte: NASA)

Até este momento, não foram detectados planetas em torno de tau Ceti, o que é positivo: pode constituir-se, assim, um sinal de que os planetas têm dimensões aos nossos companheiros rochosos do Sistema Solar (e que, por isso mesmo, ainda não existem telescópios espaciais com resolução suficiente para os detectar). Por outro lado, há um preço a pagar se não existirem gigantes de gás num sistema deste género, pois este tipo de planeta 'desvia' asteróides mortíferos na sua direcção, ajudando a 'limpar' o espaço interplanetário salvando os planetas rochosos internos. Segundo os estudos apresentados, existe um disco de asteróides e de cometas (cerca de 10 vezes maior que o nosso) em torno da estrela o que poderá significar a inexistência de gigantes de gás em torno da mesma, com previsíveis consequências para a sorte dos possíveis planetas terrestres lá existentes.

Contudo, este disco de asteróides e de cometas encontra-se a cerca de 10-50 UA (o do nosso Sol estende-se desde os 35-50 UA). Portanto, o big deal será com o seu bordo interno, o qual poderá ser explicado pela ausência de planetas que ajudassem a limpar os 'detritos planetários' nessa área. Mas 10 UA é uma distância confortável dos 0,7 UA a que se pode encontrar a nossa nova terra. E ninguém nos garante que não exista um gigante de gás mais pequeno a filtrar os asteróides e cometas (por ser exactamente mais pequeno é que também é mais difícil de detectar do que um grande, como Júpiter). O futuro parece ser risonho para nós.

Apesar dos relativos 'nãos' eles não passam mesmo disso, de relativos. Só, à medida que a tecnologia evolui é que poderemos conhecer melhor os mistérios desta estrela com potencial para nós Humanos e já aqui tão perto, a apenas 11,9 anos-luz de casa.



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* Hot Jupiter

** UA » Unidade Astronómica, é idêntica à distância entre a Terra e o Sol. É basicamente utilizada para medir distâncias entre astros num sistema solar. Representa, sensivelmente, 149 600 000 Km.

sábado, 19 de julho de 2008

Os mistérios de Omega Centauri

O maior e mais brilhante enxame estelar globular da nossa galáxia relevou a presença de um buraco negro de dimensões médias no seu centro.
Um enxame globular é um conjunto de milhares de estrelas que localiza fora do plano galáctico, mais propriamente, no halo da galáxia. Este enxame globular tem três particularidades que o distinguem da maioria dos outros enxames globulares que circundam o plano galáctico: (1) possuí 10 vezes mais massa do que os restantes enxames; (2) tem mais diversidade de gerações de estrelas do que a maioria dos enxames globulares e (3) roda em torno do seu eixo mais rapidamente do que qualquer enxame globular típico.
Perante estas condições, tão peculiares, não é de estranhar que se considere que este enxame é, na realidade, o que resta de uma galáxia antiga que há muito colidiu com a Via Láctea. Esta galáxia viu-se desprovida de grande parte das suas estrelas devido a forças de maré criadas no momento da colisão, i.e. a grande maioria das suas estrelas passou a integrar o corpo principal da nossa galáxia. Assim sendo, Omega Centauri é o núcleo que resta da colisão intergaláctica e que agora ocupa, nos domínios dos enxames um lugar notável e de destaque.
O buraco negro não é visível, mas é comprovado pelas leis da Física que admite que a velocidade de rotação das estrelas do enxame, só é possível através da presença de um corpo central e maciço. Tal entidade que corresponde as essas características é um Buraco Negro (devido à massa insuficiente das estrelas centrais para gerar uma rotação tão rápida de todo o enxame). Este buraco negro possui uma massa equivalente à de 40 000 sóis.
Este é o segundo buraco negro de tamanho 'médio' encontrado, o que constitui uma prova de que os buracos negros possuem diferentes tamanhos e massas. O outro buraco negro "mediano" foi encontrado, curiosamente, no centro de um enxame globular, desta vez, na vizinha galáxia de Andrómeda.
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Enxame globular de Omega Centauri. O enxame é tão brilhante que é visível a olho nú, a prova disso é mesmo o seu nome: o enxame foi catalogado pelos antigos como sendo uma estrela. (Fonte: NASA)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A civilização Humana

Uma vez que ontem descemos até à Terra, achei por bem trazer aqui uma mostra da arquitectura da civilização Humana que habita o terceiro astro maior a contar do Sol.

Os Homens sempre procuraram mostrar os seus edifícios como sendo uma imagem do seu poder. E tal como na corrida espacial, a construção dos mega-arranha-céus modernos não é uma representação de cultura, interesse científico ou mesmo de investimento económico. A construção destas estruturas é sinónimo de poder, tal como eram para os antepassados dos Homens ditos modernos os menires, as pirâmides, as catedrais ou os templos orientais.

Ficam aqui alguns exemplos:

Burj Dubai no Dubai, Emirados Árabes Unidos (Fonte: Wikimedia)

Chicago Spire, Estados Unidos da América. (Fonte: Wikimedia)

Panorama de Hong Kong. (Fonte: Wikimedia)

Taipei 101, na cidade de Taipé, Taiwan ou República da China. (Fonte: Wikimedia)


CCTV (Televisão estadual chinesa) em Pequim, República Popular da China. (Fonte: Wikimedia)

Bairro de La Défense em Paris, França, União Europeia. (Fonte: Wikimedia)



Manhattan, Nova Iorque, Estados Unidos da América. (Fonte: Wikimedia)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Observatório Astronómico de Fronteira

O observatório astrónomico de Fronteira (Alto Alentejo) foi inaugurado na sexta-feira passada pelo Sr. Presidente da República Professor Aníbal Cavaco Silva e representa um investimento avançado em Astronomia no nosso país.



Observatório Astronómico de Fronteira. (Fonte: Astrosurf)

O observatório encontra-se equipado com um planetário, uma área de arqueologia, biofísica, geologia e outra dedicada às energias renováveis. O espaço contém também um jardim dedicado à Astronomia, uma biblioteca, uma sala para pernoitar e uma sala de leitura. Mas a pérola vai mesmo para a cúpula do observatório.

As universidades envolvidas neste projecto são a Universidade do Porto, a Nova de Lisboa e a de Évora. O observatório teve um investimento de 2,5 milhões de Euros e é o observatório com maior qualidade de todo o país.

Agora mesmo... só falta dar um pulinho até Ribeira Grande, no concelho de Fronteira.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Água em Marte

A sonda espacial MRO, da NASA (acrónimo de Mars' Reconnaissance Orbiter) analisou a composição química de algumas rochas na superfície marciana. A conclusão veio apoiar e dar mais ênfase às descobertas feitas pela sua parceira em órbita marciana, a Mars Express, da Agência Espacial Europeia. As sondas investigavam a concentração de um tipo de rochas, os filossilicatos que funcionam como prova da existência de água no estado líquido à superfície.

A descoberta centrou-se no hemisfério meridional do planeta e vem reforçar a teoria de que Marte já foi mais quente no passado e que tinha (entre outras) condições essenciais para o desenvolvimento de vida bacteriana. A existência de água no estado líquido, em abundância, e à superfície planetária, remonta ao período entre há 4,6 e 3,8 biliões de anos. Contudo, existem outros períodos cruciais na História da água em Marte, como a formação de vários canais resultantes de cheias diluvianas à cerca de 2,8 biliões de anos.

Possível imagem de Marte com oceanos e com vida vegetal, se as condições que existiram tivessem sido outras. (Fonte: NASA)

Pensa-se que este tipo de rochas também exista no hemisfério setentrional, ajudando a teoria de um grande oceano de água nesse hemisfério. Aliás, a geologia e a cartografia admitem a ideia de água abundante em Marte (em passado longínquo ou mais recente) através do estudo de fenómenos actuais como avalanches em crateras (provocadas por fluídos em movimento), e através do estudo de formações geográficas, características da passagem de água como o delta de um rio ou uma linha de costa.

Possível delta de um rio marciano à beira da cratera Jezero. Podem-se visualizar formações relacionadas com a deposição de sedimentos no delta do rio, exactamente como acontece nos rios terrestres. Cores alteradas para estudar a diferente composição química das rochas na cratera. (Fonte: NASA)

terça-feira, 15 de julho de 2008

MESSENGER to Mercury

Superfície do planeta Mercúrio tirada pelos instrumentos a bordo da sonda MESSENGER. (Fonte: NASA)


A missão MESSENGER, ao contrário do programa que utilizamos frequentemente no pc, é uma sonda espacial da NASA, que foi enviada para o planeta Mercúrio. O seu acrónimo resulta dos principais objectivos da missão: MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry and Ranging. A sonda foi lançada do Cape Canaveral por um Boeing Delta II e realizou uma primeira passagem (flyby) sobre o planeta, a 14 de Janeiro deste ano. A próxima passagem será em Outubro e a sonda entrará em órbita definitiva em Setembro de 2009. Neste flyby viajou a cerca de 200 km da superfície do planeta.
Os resultados deste primeiro flybly sobre a superfície de Mercúrio deixaram os cientistas estupefactos: (i) descobriu-se água na exosfera do planeta; (ii) existência de vulcanismo no passado (revelado pela existência de enormes planícies de lava solidificada) e (iii) comprovou-se a existência de um núcleo no estado líquido, prova de que o planeta ainda guarda algum calor residual, ainda resultante dos tempos da formação do sistema solar.


A superfície de Mercúrio nunca antes observada foi revelada pela sonda MESSENGER. Apesar de mostrar parecenças com a Lua o planeta Mercúrio apresenta muitas diferenças mesmo com os restantes planetas terrestres. Uma delas é a existência de uma magnetosfera e de um núcleo de grandes dimensões. Os núcleos dos outros planetas encontram-se correlacionados similarmente com a restante estrutura.
(Fonte: NASA)


A missão tem como principais objectivos a cartografia do planeta, o estudo da magnetosfera e da exosfera bem como a natureza da sua história geológica. Um dos aspectos que mais intriga os cientistas é a existência de um grande núcleo no interior do planeta, cujas dimensões são proporcionalmente exageradas em relação ao resto da sua estrutura. A presença de magnetismo comparável com o terrestre é também motivo de estudo - Mercúrio é único planeta terrestre (além da Terra) que possui uma magnetosfera que desvia o vento solar da superfície do planeta. A sonda também encontra-se equipada para estudar a composição química da superfície de Mercúrio.

A missão terá a duração de um ano. A sonda, antes de orbitar o planeta Mercúrio, necessita de se posicionar. A primeira coisa a ter em conta é a imensa gravidade do Sol e a quantidade de energia dispendida com o trajecto da sonda desde a Terra. Para diminuir a quantidade de energia necessária para a sonda recorreu-se a um sistema de 'catapultas'. Passo a explicar: utilizando a gravidade de um planeta próximo é possível acelerar uma sonda - ou qualquer outro objecto - sem custos de energia. Os astrónomos definem este conceito de impulso gravitacional e é muito utilizado nas sondas que exploram o Sistema Solar. O outro problema reside também na poupança de energia, mas por outra característica: qualquer objecto que se aproxime do Sol sofre uma aceleração da velocidade, exactamente devido à sua gravidade imensa. Como a energia necessária para realizar um 'travão' seria muito elevada - os cientistas recorreram a este sistema de passagens de forma a que a sonda não viage 'directamente', mas sim indirectamente até Mercúrio. O resultado é uma poupança de energia compensada com o impulso gravitacional que torna viável o conceito. Vejamos a próxima imagem.



Trajectória da sonda MESSENGER com as suas passagens pelos planetas Terra, Vénus e Mercúrio, respectivamente. Desde o lançamento da sonda até esta entrar em órbita do planeta Mercúrio decorrerão cerca de 5 anos. (Fonte: NASA)


Todo este sistema é ainda mais complexo porque esta 'assistência de gravidade' cedida pelos três planetas: Terra, Vénus e Mercúrio, permite que a sonda adeque a inclinação, raio e forma da órbita à de Mercúrio, ao mesmo tempo que impede que esta se despenhe contra o Sol ou entre numa órbita caótica.

A sonda após ter sido lançada na Terra sobrevoou o sistema Terra-Lua e Vénus, este último duas vezes. Depois deste primeiro flyby, a sonda entrará em orbita hermesiana (de Mercúrio) a partir de 29 de Setembro de 2009 a manter-se até, pelo menos, 18 de Março de 2011. Mas, antes, irá passar pelo planeta para obter mais um impulso gravitacional. Esse encontro será em Outubro e permitirá aos cientistas observar a restante parte do hemisfério que ainda não fora cartografado. A entrada definitiva da sonda em órbita encontrará o mesmo hemisfério iluminado pela luz do Sol. A sua órbita será elíptica de modo a que a sonda possa estudar os pólos de Mercúrio (os quais pensa-se conter reservatórios de gelo de água).


Bacia de Caloris no planeta Mercúrio. Os cientistas consideravam a possível dimensão da Bacia uma vez que ainda não se encontrava totalmente cartografada. As planícies em Mercúrio diferem dos 'mares' lunares porque possuem muitas crateras entre si, não podendo formar amplas áreas como na Lua. Outra característica do planeta é a presença de cordilheiras formadas pela constrição do mesmo, por consequência do arrefecimento planetário. (Fonte: NASA)

A sonda MESSENGER é a primeira sonda a visitar o planeta desde que a sonda Mariner 10 (também da NASA) o orbitou 3 vezes, entre 1974 e 1975. A sonda cartografou menos de metade da superfície do planeta (cerca de 45%) e deixou muitos mistérios por resolver aos quais os cientistas esperam obter resposta agora. A Agência Espacial Europeia e a JAXA (Agência Espacial Japonesa, Japanese Aerospace Exploration Agency) esperam lançar a sonda BepiColombo em 2012 ou 2013. O consórcio europeu e nipónico espera atingir o seu objectivo em 2019. Mais uma vitória para os americanos e a sua agência espacial.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Constelações, Asterismos e a breve História do Mundo

Durante muitos milhares de anos, as diferentes civilizações que povoaram a terra sempre procuraram criar uma representação terrestre no céu. Essa representação baseava-se na identificação de padrões, mais ou menos, simples que tinham algo relacionado com uma actividade, deus, animal ou lenda do seu quotidiano.

Segundo a International Astronomical Union, Constelação é uma área no céu e não necessariamente um Asterismo (conjunto de estrelas). Paradoxalmente, as constelações têm origem em Asterismos criados pelos primeiros Homens. Por exemplo, no contexto astronómico, a Ursa Maior é mais que as suas sete estrelas principais: são as sete estrelas principais, as restantes estrelas dentro da área celeste que corresponde à constelação e todos os corpos do céu profundo que também se encontrarem nessa mesma área (i.e. galáxias, nebulosas).

Ursa Maior é uma constelação em que existe um conjunto de estrelas facilmente identificável, i.e. Asterismo, limitada na área da abóbada celeste (linha amarela a tracejado), além das estrelas são também identificados como parte da constelação vários objectos do céu profundo como galáxias. (Fonte: Wikimedia)


Assim, qualquer pessoa pode identificar entre as estrelas, um padrão familiar - em Portugal, é frequente ouvir-se chamar, no meio rural, às sete principais estrelas da Ursa Maior, o carro ou o arado. O carro e o arado são Asterismos a Ursa Maior, a constelação. Por uma questão de simplificação, o cérebro humano reconhece primeiro os padrões mais simples antes de interpretar os complexos. E mesmo no quotidiano, quando nos referimos à Ursa Maior ocorrerá a muitos astrónomos a ideia das sete estrelas antes de pensarem imediatamente noutro objecto. Isto simplesmente porque se trata de uma questão de economia do pensamento e de aptidão prática na realização ou idealização de qualquer objecto. Aqui, e neste caso, a diferença é entre asterismo e constelação.

A constelação é, também, uma ideia enviesada pela nossa posição permanente na terra: as estrelas que formam uma constelação não se encontram (necessariamente) dispostas a distâncias idênticas em relação à Terra. Isto trata-se de uma questão de perspectiva. O que se passa é que as estrelas encontram-se na mesma direcção do céu com que as observamos aqui na Terra. E, de facto, se pudéssemos viajar para um sistema solar diferente do nosso veríamos que todos os asterismos encontrados iriam progressivamente desaparecendo, exactamente porque este é um conceito antropocêntrico.

Ursa Maior com as sete principais estrelas. (Fonte: Autoria do blog)

Ainda sobre as constelações e juntando um pouco de Arqueologia à Astronomia - a Arqueoastronomia - , desde 13 000 a.C. que se imaginam as constelações (pelo menos desde que existem registos históricos - como as pinturas nas cavernas dos primeiros homens). As primeiras civilizações denominaram os Asterismos e a sua diferenciação com o conceito com Constelação era inexistente. Os primeiros homens repararam na permanência do céu nocturno e na estabilidade e tranquilidade que este trazia à terra - pensaram tratar-se de representações dos seus inúmeros deuses e heróis. Assim, era preciso prestar homenagem aos mesmos e estudar as suas manifestações. Para estas civilizações, os eclipses e os cometas eram sempre um prenúncio de desgraça porque se quebrava a ordem universal do firmamento e a composição da espinha dorsal da noite. Descobriram, também, o movimento de estrelas errantes ou de 'vagabundos' - os planetas.


Pintura rupestre datada de há 15 000 anos em Lascaux, sul de França. Encontra-se representado um Touro e um asterismo à sua direita, que tem a conformação das Plêiades. Curiosamente, este touro encontra-se em relação às 'Plêiades' na mesma posição que a constelação do Touro e as Plêiades ocupam no céu. Coincidência? Ou prova de que as constelações são bem mais antigas do que o que se pensava? (Fonte: International Astronomical Union)

Mas foi na permanência da ordem das coisas, no profundo céu, que descobriram a concepção de algo superior e divino. Elaboraram os primeiros calendários solares ou lunares e descobriram a noção do tempo através dos equinócios e dos solstícios. Os pontos mais alto, mais baixo e intermédios na altura do sol do céu. Quando adoptaram uma vida sedentária, passaram a associar o nascimento de uma estrela ou o seu ocaso com as cheias fluviais (e.g. o caso da estrela Sírio no Antigo Egipto), e com o tempo das colheitas ou das sementeiras. O nome 'Astronomia' deriva mesmo desses tempos antigos - embora seja de origem grega clássica - Astéri + nómos: αστέρι + νόμος, as leis das estrelas. Na vida dos primeiros homens, dificilmente arranjar-se-ia melhor definição para o que hoje é a ciência. Num mundo pré-clássico em que a diferença entre a vida e a morte, a paz e a guerra, uma boa colheita e a fome eram ténues. A Astronomia marcava a linha da riqueza e do conhecimento entre os povos, baseados na sua capacidade de realizar previsões. A subtil diferença entre barbárie e civilização.



As Pirâmides de Gizé são o apogeu arquitectónico do Egipto. Sem os conhecimentos de Astronomia, a civilização egípcia, tal como outras civilizações pré-clássicas, nunca poderiam ter chegado ao seu nível de excelência sem dominar a previsão (com precisão) do tempo e das colheitas. Um conceito simples mas indispensável na vida dos primeiros homens sedentários, que procuravam a compreensão do meio que os envolvia - e a própria estabilidade política e da Civilização. (Fonte: Wikimedia)

domingo, 13 de julho de 2008

Vega

Vega, Alpha Lyrae, ou simplesmente abreviada para a Lyr, é a estrela mais brilhante da constelação da Lira e umas das estrelas mais brilhantes do hemisfério Norte e de todo o firmamento. De facto, é a quinta estrela mais brilhante de todo o céu.
Constelação da Lira, com Alpha Lyrae assinalada. (Fonte: Wikipedia)

Vega é uma estrela relativamente próxima do nosso sistema Solar e, portanto, pela sua magnitude relativa é uma das estrelas mais brilhantes do céu. A estrela situa-se a cerca de 25,3 anos-luz da Terra, o que significa que a luz demora cerca de 25 anos a chegar à Terra. Segundo a teoria da Relatividade de Einstein, nada pode viajar a velocidades superiores à da luz no vácuo, i.e. no espaço aberto. Tal corresponde a um facto interessante, nós estamos a ver a estrela tal e qual como ela era há 25 anos, ou seja, como ela era antes de pessoas que têm a minha idade, terem nascido. É confuso e surpreendente ao mesmo tempo, mas o facto reside no seguinte: olhar à distância é olhar sempre para o passado. No nosso quotidiano não nos vemos confrontados com essa situação uma vez que as distâncias são bem mais curtas. Mas e, uma vez que baseamos boa parte da nossa informação sensorial na luz, é estranho e bizarro pensarmos que a velocidade da luz também tem o seu custo tempo. Mas isto será tema para outro post. Regressemos a Vega.

Vega além de ser uma das estrelas mais brilhantes do céu é também uma das mais exaustivamente estudadas pelos astrónomos. Alguns cientistas pensam mesmo que poderá existir um planeta com a massa do nosso gigante de gás Júpiter. Mas Vega é muito mais conhecida entre os astrónomos pelo seu disco de poeiras e gás que rodeia a mesma. Este disco é estudado, não por método observacional directo, dependente do espectro de luz captado pela visão humana, mas por radiação infravermelha (IV). A estrela é pobre em metais (comparativamente ao nosso Sol), o que poderá ser uma indicação de um sistema planetário pobre nos mesmos, i.e. pobre em planetas rochosos, metálicos, do tipo terrestre. É mais provável que o disco interestelar possua condições para a formação de gigantes gasosos.

Vega é uma estrela muito mais brilhante que o nosso Sol, a sua luminosidade é equivalente à de 37 sóis. A estrela é classificada pelo seu tipo espectral em A0 (A-zero) o que indica que é uma estrela branco azulada. Esta estrela terá um tempo de vida muito mais curto do que o do Sol (calcula-se que este tenha 4,6 mil milhões de anos), pois ambos encontram-se a meio da sua vida e Vega tem entre 386 a 511 milhões de anos. Tal como a maioria das estrelas (Sol incluído), Vega crescerá até se tornar uma gigante vermelha. Posteriormente libertará as suas camadas exteriores e converter-se-á numa anã branca (uma estrela com o tamanho do nosso planeta) até definhar e converter-se numa anã preta, um objecto frio e morto, perdido na vastidão do espaço.


Vega observada pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA. (Fonte: Space Telescope Spitzer Database)

Há cerca de 14 000 anos (no ano 12 000 a.C), devido a um fenómeno chamado de Precessão dos Equinócios, a estrela foi a nossa estrela polar. Este fenómeno pela sua importância na arqueoastronomia terá direito a um post próprio. Prevê-se que no ano 14 000 d.C. a estrela voltará a encontrar-se sob o pólo celeste norte.

Vega sempre teve uma influência para as inúmeras civilizações que povoaram a terra, para os árabes, que lhe deram o nome, era Wega ou a estrela que cai - referência à antiga constelação da Lira que era ocupada por uma águia. Para os assírios, uma civilização baseada no que é actualmente o norte do Iraque, era o juíz do firmamento e para os seus contemporâneos babilónios era o mensageiros dos céus. Vega uma estrela que durante o verão nunca se põe abaixo do horizonte, marcava para os antigos romanos e gregos o início do Outono quando mergulhava no horizonte. E foi exactamente dos gregos que a constelação herdou o seu significado actual, uma lira. Que na mitologia grega correspondia à lira de Orfeu.

Mas, para nós, ocidentalizados nas nossas cidades e vidas urbanas, Vega ainda é das poucas estrelas que não ficam desaparecem sob o brilho intenso dos nossos postes de iluminação.
Qualquer um de nós pode identificar o asterismo (forma geométrica esboçada pelas estrelas) em forma de triângulo - correctamente denominado de triângulo de Verão formado pelas estrelas Deneb (no Cisne), Altair (na Águia) e Vega, as quais marcam os vértices deste triângulo.

O triângulo ocupa uma posição alta e quase permamente ao longo das longas noites de verão. Vega é a estrela mais brilhante deste triângulo enquanto Altair é a mais 'baixa' em termos de altura/altitude (ascensão recta) no céu. Já por si, Deneb é a estrela que está no ponto mais alto de uma cruz (a constelação do Cisne) - segundo a mitologia cristã esta constelação tem a forma de uma cruz. Por vezes, o Cisne é apelidado de Cruzeiro do Norte, por oposição ao Cruzeiro do Sul, muito mais austral e não visível nas nossas latitudes lusitanas.
O triângulo não é uma constelação mas sim um asterismo. Na seguinte imagem encontra-se representado o triângulo de verão a amarelo claro e as principais constelações a branco.


Triângulo de Verão (Fonte: Autoria do Blog)

Vega foi o tema principal sobre o filme e livro 'Contacto' de Carl Sagan que abordava a descoberta de vida inteligente extraterrestre através do programa SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence). A mensagem recebida pela Dr.ª Ellen Arroway provinha exactamente da estrela Vega.

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Magnitude Relativa ou Aparente » é a magnitude de uma estrela ou outro corpo celeste na abóbada celeste. Foi um conceito desenvolvido e trabalhado por Hiparco, na Grécia antiga. Destaca-se do conceito magnitude absoluta, cujo conceito assenta na comparação do brilho dos corpos celestes a uma distância padronizada de 10 parsecs, sendo que cada objecto para a magnitude aparente é catalogado de acordo com a intensidade de brilho que provém do mesmo para um observador terrestre. Na prática, magnitude aparente corresponde ao brilho que associamos a determinado objecto quando o observamos no firmamento.

sábado, 12 de julho de 2008

Mare Tranquillitatis

Estava aqui ocupado a pensar nas estrelas quando decidi que criar um blog sobre Astronomia seria algo interessante. Este pensamento já me havia ocorrido à cerca de uns dois anos.
E é algo de indescritível o que sempre senti pela Astronomia, esta admiração, 'espanto' e curiosidade com o que se passa acima de nós. A ideia da transcendência, do tempo comum e incomum, da dualidade das coisas e essa permanente espiritualidade do firmamento chamaram-me. Normalmente só se ouve essa voz dentro de nós uma vez na vida e, como outras coisas memoráveis, não volta, não regressa, perde-se se não acorrermos ao seu chamamento. Eu ouvi, eu acreditei.

Porquê «Mar da Tranquilidade»? Além de ser uma alusão a uma região num corpo celeste que nos é particularmente familiar (a Lua) com o nosso dia-a-dia é o seu próprio nome ligado ao seu misticismo como um dos pontos de partida (ou de chegada) na exploração humana do espaço. Tranquillitatis porque o espaço é tranquilidade humana porque é redenção e mistério do seu mistério. O espaço é espiritual, mas irreligioso. É como uma filosofia de libertação. O que busco é, nem mais nem menos, o seu epíteto tão luminoso e triunfante, como é a face da Lua. A noite é grande e perigosa. Mas a noite é o arranjar do dia, o caminho iluminado pela Lua e pelas estrelas e outros corpos celestes onde tudo se compõe na essência mais profunda da noite. O dia são os espelhos e a noite o nú completo, dissecado, aberto. A noite é a planificação do dia e só no interior, âmago e sentimento das coisas é que a mudança da face é permanente e inteira. A noite é a redenção escrita nestas linhas. A Astronomia é a ciência é o tempo comum de tudo o que existe, existiu ou alguma vez existirá. Astronomia é Poesia, Poesia é Dualidade e esta é existência - a procura infinita de algo maior. E eu escrevo-o porque sinto, não porque desejo escrever.